sábado, 20 de fevereiro de 2010

Alfabetização x letramento

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É por volta dos anos de 1980 que a palavra letramento entra em voga no discurso de especialistas em Lingüística e Educação. Houve, nesse momento, uma busca de ampliar o conceito de alfabetização, chamando a atenção não somente para o domínio de decodificar termos lingüísticos, mas também para o uso consciente dessa habilidade nas práticas sociais em que o ato de ler e escrever são necessários. Fica marcante nessa nova forma de pensar, a idéia de que a eficácia do letramento em um indivíduo pode lhe proporcionar interações sociais, culturais, políticas, econômicas, tornando-o “emancipado”, termo este, usado por Leda Verdianni, em uma sociedade na qual a escrita está presente em todas as esferas.

Vive-se hoje em um mundo em que não somente a linguagem verbal está presente, mas também a linguagem não-verbal. Desta constatação surge a importância de ler (letramento) além e não só saber o que está escrito (alfabetização). “Lemos” o tempo todo. A leitura faz parte da vida de todas as pessoas, mesmo daquelas que afirmam não gostar de ler. Ela está no mercado, no noticiário das oito, no bar, no hospital, no trânsito, nos mapas, no visor do celular, no computador, no cinema, no teatro, nas embalagens e não apenas nos livros. “Lemos” as pessoas, o jeito como elas nos tratam, os olhares, a vida de nossa família, o impacto de nossas histórias de vida e de amor. Isso, sem dúvida, vai além da capacidade de juntar o “B” + o “A” e formar “BA”, condição ditada pela alfabetização.

Sabe-se, porém, que em nosso país, há muitos brasileiros que apenas desenham seu nome na hora de, por exemplo, assinar um documento, não sabendo, portanto, interpretar o teor do mesmo. Mas a conseqüência disso é maior e mais prejudicial: a maioria não sabe votar porque não sabe “ler” o que os políticos estão dizendo. Isto ressalta a importância do indivíduo ser letrado e não apenas alfabetizado.

Numa rápida e superficial reflexão, percebemos que o termo letramento remete ao vocábulo letra. No dicionário Luft, o verbete não aparece. O termo mais próximo é letrado, com a seguinte significação: “adj. e s.m. (Indivíduo) culto, erudito, douto.”. Logo se percebe que ser letrado significa muito mais do que somente ter a habilidade de decodificar sons de letras e organizá-las para formar palavras e sentenças. Por muito tempo acreditou-se que propor exercícios mecânicos e repetitivos levaria a criança a ler e a escrever com propriedade. Por muito tempo professores ficaram em paz com suas consciências quando percebiam que seus alunos já sabiam os sons das letras ou qual palavra estava escrita no papel. Mas letramento vai além da alfabetização, quando propõe que o indivíduo precisa ler e entender o texto, passear por ele, viajar em suas idéias e provocações.

Dessa forma, sabendo-se que o letramento é condição essencial para que se possa compreender o mundo, entender as próprias experiências, o passado e o presente, torna-se imprescindível que o aluno construa habilidades lingüísticas para que possa ir além da simples decodificação de letras (alfabetização). É preciso ler as entrelinhas, saber o que o texto está dizendo, debruçar-se sobre a leitura e construir suas conclusões. Torna-se necessário que o educador conduza seu aluno a inferir, ou seja, realizar um raciocínio com base em informações já conhecidas, a fim de chegar a informações novas, que não estejam explicitamente marcadas em um determinado texto. Assim sendo, o letramento é dar significação à alfabetização, tornando-a um processo funcional. Concluindo poeticamente (exercício dos letrados), letramento é como uma estrada que se trilha para o resto da vida, vida esta que perderia muito, se não trilhada a estrada.

Professora Monica Amorim

2 comentários:

Unknown disse...

Oi, Mô, adorei suas colocações sobre o tema. a sua escrita é sempre tão clara e feliz que realmente torna simpática a nossa língua querida.
Que bom que você existe pra alegrar e encantar os alunos, amigos e admiradores com a arte das suas palavras, seja num texto poético ou acadêmico.
Beijos simpatizantes
Mariângela Vida

Éder Fogaça disse...

Sempre tive pra mim que ler é um exercício, acima de tudo, de interpretação do mundo. Agora encontrei uma fonte para fundamentar meu pensamento. Parabéns, Professora, pelo texto tão esclarecedor.
:)
Éder